Coaching Romantismo ou Realismo

Coaching! Romantismo ou Realismo?

O excesso de romantismo pode camuflar alguns problemas e é nesse contexto que vou ao encontro da justiça para uma atividade séria que merece todo respeito.

A atividade de Coaching se tornou foco de muita controvérsia nos últimos meses. Porém, infelizmente, não pela proposta séria que visa, basicamente, o desenvolvimento humano e profissional. Mas pelas diversas abordagens, equivocadas, de muitas pessoas que se dizem coaches e, porque não, também por aquelas que dedicaram tempo e dinheiro em uma formação profissional, mas que ainda não entenderam a atividade.

Então, todo esse conturbado cenário atual, que para mim, é perfeitamente normal, pois, faz parte do processo evolutivo para qualquer nova atividade, pode ter uma justificativa se olharmos para alguns capítulos da história humana.

A Ciência

E, para contextualizar, pegarei um breve trecho do desenvolvimento científico administrativo, ou seja, a Teoria Geral da Administração. Sim, aquela que estudou e desenvolveu a Administração como ciência desde o final do Século XIX, até pouco mais da metade do Século XX. E que, naturalmente, ainda se desenvolve, continuamente, até hoje.

Então veja! Ao final da década de 1950, em uma das teorias administrativas, mais precisamente, a Teoria das Relações Humanas. Elton Mayo, um dos seus principais defensores, foi alvo de muitas críticas ao defender suas ideias, diretamente relacionadas ao fim da visão mecanicista nas indústrias, onde viam as pessoas como máquinas – Assista Tempos Modernos do Charles Chaplin.

Desta forma, Mayo propôs uma visão mais humana para a administração, dedicada a olhar as pessoas como homens, e não como máquinas.

Contudo, em uma das críticas listadas por seus opositores, dizia:

“Concepção ingênua e romântica do operário. A figura do operário feliz, produtivo e integrado, nunca foi comprovada, podendo ocorrer: operários felizes e improdutivos ou infelizes e produtivos.”.

O Romantismo

Bem, chegamos ao ponto relevante para o momento atual do Coaching.

Existe, e isso é uma afirmação, um romantismo exagerado demonstrado pela maioria dos atuantes de Coaching, formados ou não. E, esse é o principal fato que remete a falta de credibilidade e desconfiança aos profissionais e às atividades de Coaching.

Por analogia, o romantismo foi um movimento artístico, intelectual e filosófico ocorrido ao final do Século XVIII. Dava ênfase à exaltação da natureza, ao individualismo das pessoas e as suas emoções.

Você vê alguma semelhança entre o romantismo e a postura da maioria dos coaches?

Logo, é assim que eu tenho testemunhado quando me deparo com alguns coaches e ouço o que têm a dizer ou leio o que escrevem.

Minha conclusão é que para o Romântico Coach, obrigado não é permitido, tem que dizer gratidão. Não se diz mais acreditar, tem que ser crença. Não é mais equilíbrio e harmonia, mas flow (fluxo: que dá o sentido de fluidez, continuidade, equilibro).

Neste contexto romântico, subintende-se que o coach e suas ferramentas são capazes de resolver todas as dificuldades do mundo.

E aqui está! É neste ponto que estão ocorrendo, injustamente, as maiores críticas ao Coaching. São coaches e não-coaches declarando os mais fantasiosos objetivos atribuídos a ele.

Os equívocos do romantismo no Coaching

Não raro, dizem que resolvem casos de depressão, atuando equivocadamente como Psicólogos. Uma vez que, garantem que são capazes de transformar, em dez sessões, toda uma vida de hábitos e comportamentos indesejados e que levam ao sucesso e às realizações rapidamente, como se transformassem água em vinho.

Além disso, dizem que mudam o DNA humano, que terá um corpo perfeito em pouco tempo e que são capazes de resolver até, dívidas financeiras com o banco.

Esse romantismo exagerado reflete na forma como escreve. Sempre carregado de palavras bonitas e mensagens que arranca suspiros. Reflete na forma, infantil, ao se dirigir as pessoas.

Parece-me que a vida do coach é perfeita, que existe, permanentemente, um sorrindo estampado no rosto. Que tudo é lindo e maravilhoso, e que os problemas da vida são simples de resolver. E, que além de tudo, você só não consegue atingir seus objetivos, se não quiser, ou se não houver esforço suficiente.

Em suma, tudo isso é irreal, é puro romantismo!

O Realismo

Entretanto, precisamos viver a realidade e, principalmente, passar a realidade às pessoas.

A verdade é que, nós coaches não temos uma vida perfeita, estamos repletos de crenças limitantes, procrastinamos, entramos em conflitos em nossos relacionamentos, nos deprimimos, temos dificuldades em atingir nossos objetivos, não somos capazes de resolver todo ou qualquer problema. Nem mesmo os nossos.

Da mesma forma como todo o restante da humanidade. Assim como um médico não está isento de contrair uma doença.

Pois, sobretudo, somos seres humanos e complexos!

Portanto, convido você coach a equilibrar seu romantismo com outro movimento, também artístico, que ocorreu no Século XIX e que vai de encontro ao romantismo.

Refiro-me ao Realismo. Movimento que representa a realidade vivida pela sociedade que, invariavelmente, se faz através de críticas, erros, acertos, desajustes, alegrias e tristezas. Que envolve temas sociais, pessoais, profissionais e emocionais. Tudo isso de forma simples e que reflete a realidade, dura ou não.

E, novamente, convido você coach a usar o seu aprendizado para propor às pessoas, apenas uma possibilidade, mas real, que é a de aprender a lidar com os entraves e vieses que a vida oferece todos os dias.

O nosso papel como coach é o de, simplesmente, através de técnicas apropriadas e sem fantasias ou exageros, induzir o coachee a pensar e encontrar, por si só, as próprias soluções ou maneiras mais leves para viver a vida.

Simples assim!

Contudo! Ao final sempre há um começo.

Carinhoso e intenso abraço!

Prof. Ruberval Machado

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Tenho outros artigos em meu blog. Acesse: https://profruberval.com.br/artigos/

Este artigo foi publicado originalmente na Revista Líder Coach nº 17 – Maio – 2019

Fonte adaptada (Romantismo e Realismo): https://www.significados.com.br/
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